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Foto copiada do Google |
Fruto de investigação científica por várias décadas, a
variedade da mandioca amarela _ que responde hoje por cerca de 100% do total de
mandioca consumida em São Paulo _ rendeu à pesquisadora Teresa Losada
Valle, do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), o prêmio Péter Murányi 2012,
concedido pela Fundação Péter Murányi desde 2002.
O tema do prêmio abordado pela Fundação na edição deste ano foi os desafios
enfrentados pela ciência na área de alimentação, como fome e sustentabilidade.
O prêmio reconhece projetos científicos com impactos sustentável e socioeconômico. A entrega do prêmio, realizada ontem à noite (18), em cerimônia realizada
no Espaço Rosa Rosarum, em Pinheiros (SP), contou com a presença de
pesquisadores, representantes de governo e entidades científicas. Representantes da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e Academia Brasileira de Ciências (ABC) entregaram as premiações aos
homenageados.
A variedade da mandioca amarela, IAC 576-70, desenvolvida, atualmente, pela pesquisadora
Teresa vem fazendo sucesso diante da elevada produtividade, resistência a doenças e
forte presença de vitamina A. Ou seja, supera em dez vezes a quantidade de vitamina A obtida na mandioca branca.
A mandioca amarela tem 200 a 300 de unidades internacionais de vitamina A, chamada de UIA, um sistema mundial de medida para
quantificar vitaminas. Enquanto as mandiocas brancas têm 20 unidades
internacionais. Segundo a pesquisadora, hoje existem variedades com até 800 UIA. A cor amarela está associada a concentração de vitaminas.
Já a
produtividade média dessa mandioca em São Paulo é de 15 toneladas por hectare
anuais, podendo chegar de 25 a 30 toneladas por hectare anuais, variavelmente
com as condições do solo. "A mandioca branca é também produtiva, mas é
muito sensível a doenças", disse a
pesquisadora.
Expansão para outras regiões - O melhoramento genético da mandioca que conquistou o paladar
do consumidor paulistano foi desenvolvido, inicialmente, para beneficiar
produtores da agricultura familiar e pessoas migrantes de zonas rurais
instaladas em áreas periféricas de pequenas cidades do interior paulista e que
cultivam a agricultura para o próprio consumo. Hoje o cultivo desse produto começa a ser explorado também em outras regiões, como
Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal.
A pesquisadora lembra que a mandioca amarela viabilizou o processamento do produto, atraindo a indústria de congelados, fator, até então,
inexistente no País. Permitiu também o aumento do rendimento dos produtores
rurais pelo fato de ter baixo
descarte (raízes abandonadas pela inviabilidade comercial.
Mesmo que não seja a galinha de ovos de ouro do agronegócio, a
mandioca hoje é o terceiro produto que integra o prato do consumidor
brasileiro, principalmente a farinha. "Hoje a mandioca é a quarta cultura
em volume produzido no Brasil, superando a produção de
arroz, feijão e batata", disse a pesquisadora. Hoje o Brasil produz 24
milhões de toneladas ao ano de mandioca e 10 milhões de arroz e feijão, cada um. Ela não informou quanto a mandioca
amarela representa da produção nacional.
Histórico - O trabalho de melhoramento genético da mandioca
começou no século XIX quando o IAC foi criado para estudar o cultivo de café. O primeiro
estudo publicado de mandioca foi em 1899. Em 1935, com a reforma do IAC para
adaptar a diversificação da agricultura paulista em decorrência da queda da
Bolsa de Nova York, quando houve a crise do café, foi criada a área de raízes e
tubérculos, ocasião em que criou-se uma equipe só para trabalhar com mandioca.
Especificamente, a variedade IAC 576-70 começou a ser desenvolvida em 1970 e
ficou pronta em 1984, quando começou a ser difundida em São Paulo a pequenos
agricultores.
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Arquivo do IAC |
"O estudo de melhoramento passa de geração para geração
e de equipes", disse Teresa, para emendar: "Sou a vencedora porque
estava no IAC no momento [certo], pois alguns pesquisadores já se aposentaram,
outros morreram e eu toquei o projeto", declarou a pesquisadora.
Marco na ciência brasileira - A vice-presidente da SBPC,
Dora Ventura, uma das entregadoras da premiação deste ano, destacou que os
prêmios da Fundação Péter Murányi já se tornaram um marco na ciência
brasileira. Segundo Dora, além de incorporar um enorme incentivo aos premiados,
a Fundação mostra à sociedade "o trabalho sério e competente"
desenvolvido nas universidades e centros de pesquisa do País. Ao destacar a
qualidade dos projetos e seus impactos socioeconômicos, Dora destacou que a
Fundação mostra o valor de se investir na ciência e tecnologia produzidos no
Brasil.
Crítica da SBPC ao corte no orçamento em C&T - A
vice-presidente da SBPC aproveitou a cerimônia para criticar o corte do
orçamento do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Segundo ela,
se reconhecesse os verdadeiros benefícios trazidos pela investigação científica
e para a formação de recursos humanos para a ciência, tecnologia e inovação, dificilmente o
governo teria cortado os recursos (22%) destinados a essas áreas,
consideradas importantes para o desenvolvimento do País.
Ela convidou parlamentares para acompanharem o manifesto da
SBPC e ABC, já endossado pelas entidades representativas da indústria
brasileira, em defesa da revisão dos cortes da verba do MCTI.
"Ao verem premiações como essa, que, no
Congresso Nacional e em outras instâncias do Legislativo, os nossos
parlamentares também venham a sentir que estarão em sintonia com a sociedade se
lutarem por mais apoio para a investigação científica e para formação de
recursos humanos para a ciência, tecnologia e inovação", disse Dora.
Em outra frente, o professor José Adolpho Melfi,
vice-presidente regional da ABC em São Paulo, destacou a edição do Prêmio deste
ano lembrando a relevância do tema alimentação em um mundo que se depara
com crescimento acentuado da população. Hoje o número ultrapassa 7 bilhões de
habitantes, devendo crescer mais de 9 bilhões até 2050. Nesse caso, ele
destacou que a ciência e a tecnologia apresentam como solução para o problema do
mundo contemporâneo, considerado crucial.
Áreas contempladas - A presidente da Fundação Péter Murányi,
Zilda Vera Murányi, informou que os prêmios contemplam quatro áreas:
alimentação, saúde, desenvolvimento cientifico e tecnológico e educação. Neste ano, a área de alimentação é contemplada pela terceira vez. A edição de
2013 vai abordar projetos voltados para a educação nacional.
"O trabalho deste ano, como o de outros anos, é
inovador. Ele melhora a qualidade de vida dos povos situados abaixo da latitude
20 do hemisfério norte e tem uma aplicabilidade prática muito grande",
disse ela, ao destacar que hoje a mandioca amarela já representa cerca de 100%
de toda a mandioca consumida em São Paulo. Para ela, esse é um fato importante para sociedade considerando que a alimentação do brasileiro é composta, em grande, por arroz,
feijão e mandioca.
No total, concorreram ao prêmio 102 trabalhos científicos,
incluindo os de diversos países da América Latina. Outros pesquisadores
também foram homenageados. Foram entregues menções honrosas à Marília Regini
Nutti, da Embrapa Agroindústria de Alimentos pelo trabalho na área de
biofortificação; e ao Darcy Ribeiro,
pesquisador do Laboratório de Tecnologia de Alimentos da Universidade Estadual
do Norte Fluminense (Uenf), de Campos
dos Goytacazes (RJ), por conseguir obter aproveitamento total da fruta
do maracujá, ao transformar os resíduos (cascas e sementes) em produto com
valor agregado.
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