O
interior do Maranhão, especificamente a região de Baixo Parnaíba, que desponta
como uma nova fronteira agrícola, principalmente para o plantio de soja e
milho, começa a preocupar pesquisadores pelo fato de representar uma ameaça à
produção de culturas tradicionais, como o babaçu e pequi; à agricultura
familiar que abastece a população local, e ao meio ambiente.
Agricultura familiar |
Tal tema
centralizou o debate da mesa redonda “Os Impactos do Agronegócio na Região do
Baixo Parnaíba”, realizada no último dia da Reunião Regional da SBPC,
quinta-quinta-feira (24), na Universidade Federal do Maranhão (UFMA), no Campus
de Chapadinha. O evento foi realizado na cidade que leva mesmo nome e que
detém cerca de 60 mil habitantes, situada a mais de 200 km de São Luís.
Fizeram parte do debate os pesquisadores da Embrapa, Milton José Cardoso, e Aberício Pereira de Andrade, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), e o representante do Incra, José Inácio Sodré Rodrigues.
O Baixo Parnaíba é composto por 16 cidades, incluindo Chapadinha, com uma relação socioeconômica e cultural. A região é responsável por uma área de extensão de 19.178,80 Km² de hectares, com sérios problemas sociais e com IDH médio de 0,55.
Fizeram parte do debate os pesquisadores da Embrapa, Milton José Cardoso, e Aberício Pereira de Andrade, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), e o representante do Incra, José Inácio Sodré Rodrigues.
O Baixo Parnaíba é composto por 16 cidades, incluindo Chapadinha, com uma relação socioeconômica e cultural. A região é responsável por uma área de extensão de 19.178,80 Km² de hectares, com sérios problemas sociais e com IDH médio de 0,55.
As
informações são de
que as atividades de produtores rurais do Rio Grande do Sul e do
Centro-Oeste,
considerado o celeiro de grãos do País, estão migrando para o interior
do
Maranhão, onde há disponibilidade de terra, clima favorável à
agricultura e transporte para o escoamento de grãos, como o Porto de
Itaqui, o 2º mais profundo do mundo e um dos mais movimentados.
O pesquisador da
Embrapa, Cardoso, confirmou a informação de especialistas locais de que o
plantio de soja e milho cresce acentuadamente na região que está entre as
regiões com o menor Índice de Desenvolvimento Humano (HID) do Brasil, mas que
possui vocação climática, com garantia de produtividade elevada, e
extensão territorial.
Equilíbrio
Cardoso defendeu o
plantio sustentável na região e equilíbrio entre a agricultura empresarial,
geralmente destinada à exportação, e a agricultura familiar (arroz, feijão,
milho), garantindo a produção de alimentos com conservação e proteção do meio
ambiente.
Produção de pequi |
“As áreas
agrícolas estratégicas ocupadas para a população local estão perdendo espaço
para a soja e milho”, destacou Cardoso.
Produção de milho
Cardoso citou, por exemplo,
os últimos dados da Conab que mostram que a estimativa para todo o Estado
do Maranhão para safra de milho da temporada 2011/12 ocupa uma área
considerável de 592,2 mil hectares, o
equivalente a uma produção de 977,1 mil toneladas, com rendimento médio
estimado em 1,65 mil quilos por hectare. Estima-se que a produtividade do
milho chega a variar entre 6 e 7,5 toneladas por hectare, em média.
Com base
em dados do Banco do Nordeste, o pesquisador da UFPB, Andrade, citou que a soja
é a atividade agrícola que mais cresce em Chapadinha, por exemplo, cidade onde
o plantio começou a partir de 2003, e hoje acumula taxa de crescimento de
92,23% nos últimos nove anos. Ao lembrar que cerca de 70% do alimento consumido
no Brasil tem origem na agricultura familiar, Andrade defendeu aumento de
políticas públicas para esse segmento que responde apenas por 11% das políticas
agrícolas do País. Enquanto isso, a agricultura empresarial, geralmente voltada
para o mercado externo e à formação do chamado superávit comercial , responde
por 89% do crédito concedido por bancos públicos ao setor.
Políticas públicas
O pesquisador da UFPE também
defendeu eficiência no sistema agrícola para permitir aos pequenos agricultores
brasileiros o acesso ao conhecimento científico e tecnológico, além de
educação. “Os esforços têm de ser multiinstitucionais e é preciso ordenar
esforços para a melhoria da sociedade. É preciso trabalhar o longo prazo”,
destacou.
Atenção
do Incra
Em uma tentativa de minimizar os impactos da aceleração
desproporcional do agronegócio no Baixo Parnaíba, o representante do Incra,
Sodré Rodrigues, destacou que o objetivo do órgão é fortalecer a
agricultura familiar na região. Estima-se que existem na região 30 mil
agricultores da área familiar e 6,7 mil de famílias assentadas, sendo em 15
comunidades quilombolas. A proposta do Incra é analisar os novos detentores de
terras na região.
Desmatamento em
ação
Um dos pesquisadores
do Fórum em Defesa do Baixo Parnaíba, Luiz Alves Ferreira, Secretário Regional
da SBPC no Maranhão, estudioso dos impactos da aceleração do agronegócio da
região, chamou a atenção para o elevado desmatamento da região.
Foto do Google |
Em linhas
gerais, Ferreira, que acompanhou a mesa redonda do lato da plateia, disse que o estudo
do Fórum revela que em regiões como o Brejo, cidade da região, com 27 mil
habitantes, aproximadamente, o índice de desmatamento cresceu 420,8% entre 2000
e 2004, a maior taxa de desmatamento verificada entre as demais regiões do
Baixo Parnaíba, causando impacto nas culturas tradicionais.
“O pequi está saindo do
prato das pessoas da região”, disse.
Já
em Chapadinha, o índice de desmatamento aumentou 11% no mesmo período. O
estudo destaca também uma eventual concentração de terras, considerando que
mais de 1 milhão de hectares (dados de 2004) já estão sob o controle de
grandes proprietários rurais.
Com
base
no estudo do Fórum, Ferreira declarou que os principais problemas para a
região, que detém os piores indicadores sociais, são os avanços dos
grandes projetos
sobre territórios ocupados pelas comunidades tradicionais e quilombolas,
comprometimento de recursos hídricos, insegurança alimentar e
nutricional. Além
disso, os dados do Fórum destacam que o avanço da fronteira agrícola do
agronegócio, da forma como está sendo praticada na região do Baixo
Parnaíba,
viola os direitos humanos, pois intimida a população local. Fora isso,
destrói
o meio ambiente, tanto pelo desmatamento, quanto pelo uso de
agrotóxicos, com graves riscos à preservação da integridade das bacias
hidrográficas da região, com destaque para os lençóis maranhenses, o que
também
traz prejuízo às comunidades e moradores locais.
(Viviane
Monteiro – Jornal da Ciência)
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