Trabalhou quase oito anos no Grupo Gazeta Mercantil, passou pelo Valor, DCI e revistas

sábado, 16 de janeiro de 2010

Brasil precisa de medidas para gerar demanda interna, diz consultor da ONU

O economista americano Jan Kregel, professor da Universidade do Missouri, do Bard College, em Nova York, e consultor da Organização das Nações Unidas, afirma em entrevista a ÉPOCA (desta semana) que o país precisa adotar medidas para gerar demanda doméstica



ÉPOCA – A influência global dos países emergentes cresceu muito desde o pico da crise. Trata-se de uma mudança permanente ou de um cenário transitório, de saída da crise?

Jan Kregel – Lembre-se dos anos 1970, quando o preço do petróleo deu grandes saldos comerciais aos países produtores. Não havia demanda por esses fundos no mundo desenvolvido, então os investimentos foram feitos na América Latina e na Ásia.

Esses mercados, então, ganharam influência sobre a economia global, porque eles estavam em expansão e tinham demanda por capital.

O resultado foi a década perdida dos anos 1980, com a crise da dívida que levou ao Consenso de Washington e à extrema dependência do crescimento dos Estados Unidos. Atualmente, um processo similar está em andamento – uma grande quantidade de dólares e euros foi colocada à disposição em resposta à crise, não há demanda não-financeira [da economia real dos países ricos] pelo capital e, como resultado, o capital está fluindo para as economias da América Latina e da Ásia que não tiveram crise interna e se recuperaram da freada global. A questão é se a situação vai produzir resultado diferente daquele dos anos 1980.

ÉPOCA – O que seria preciso para chegar a um resultado diferente?

Jan Kregel – Algumas economias continuam dependentes dos Estados Unidos como fonte de demanda e de suas exportações liderarem o crescimento. Isso vale para China, outras economias asiáticas e a maioria das latino-americanas. Só as economias que puderem expandir seu mercado interno conseguirão ter independência e influenciar a economia global. Enquanto os mercados emergentes continuarem dependentes do capital externo eles não terão independência política nem maior influência na economia global.

ÉPOCA – A crise serviu para mostrar ao mundo as diferenças entre os países emergentes?

Jan Kregel – Há uma diferença clara entre as maiores economias em desenvolvimento. A maioria – México, China, outros asiáticos – dependem do crescimento global e não têm a habilidade de gerar demanda doméstica. O Brasil e, em menor escala, a Índia têm essa possibilidade, mas eles precisam reconhecer isso e adotar políticas correspondentes. Isso significa controlar o investimento externo e o fluxo de capital para administrar a taxa de câmbio e reter competitividade, assim como estimular o crescimento do mercado doméstico.

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