Trabalhou quase oito anos no Grupo Gazeta Mercantil, passou pelo Valor, DCI e revistas

domingo, 29 de maio de 2011

Agricultura sustentável: Governo britânico quer parceria científica com Brasil

Fonte: Jornal da Ciência
Por Viviane Monteiro

De olho nas perspectivas de crescimento da demanda mundial por alimentos, de energia e água nos próximos anos, em meio ao cenário de aquecimento climático, o Reino Unido expressa o interesse de estreitar, ainda mais, as relações com a Embrapa para a produção de alimentos sustentáveis.

Sir John Beddington, conselheiro-chefe para assuntos científicos do Gabinete de Ciência e Tecnologia do Reino Unido, afirmou que as duas partes estudam a possibilidade de produzir algumas culturas agrícolas capazes de intensificar, ainda mais, a quantidade de sequestro de gás carbônico e acelerar a redução das emissões de gases causadores do efeito estufa.

“Pensamos em desenvolver uma agricultura inteligente em relação ao clima”, disse em debate na Finep, no Rio de Janeiro, no último dia 13, sob o tema: Ciência, Tecnologia e Informação e desafios globais de Brasil e Reino Unido.

Beddington, que abriu a palestra informando que assuntos ligados a mudanças climáticas e adoção de soluções científicas e tecnológicas fazem hoje parte da pauta diária do governo britânico, disse que “o Brasil é o País indicado para gerar alimentos” no mundo, em decorrência de sua expertise no campo, com destaque para a da Embrapa.

Citando o anúncio da intenção de se ter 75 mil bolsistas no exterior, feito recentemente pelo governo federal, Beddington afirmou que hoje os dois países podem melhorar a cooperação técnica tanto quanto era na década de 1970. “Podemos aumentar a colaboração na área de bioenergia”, exemplificou. Além da Embrapa, outras entidades, como a Fapesp, já mantêm acordos com instituições britânicas de pesquisa.

Demanda em alta - Beddington citou as expectativas de crescimento da demanda por alimentos, água e energia nos próximos anos e reforçou que a produção desses itens deve vir acompanhada de medidas sustentáveis. A maioria do incremento da demanda, segundo avaliou, é influenciada pela alta do poder aquisitivo da população, principalmente, de países em desenvolvimento. Outra parte deve-se a um contingente de um bilhão de pessoas pobres que dependem da implementação de políticas públicas.

Baseado em dados do Banco Mundial, Beddington disse que as previsões apontam para 2030 um incremento de 40% no consumo de energia elétrica, 40% de alimentos e 30% no consumo de água.

Aquecimento global - O cientista britânico destaca a necessidade de serem adotadas, o mais cedo possível, alternativas em escala global em uma tentativa de reverter eventuais desastres naturais em decorrência do acirramento do aquecimento global nas próximas décadas. Lembrou os desafios previstos no Acordo de Copenhague, no qual prevê que a temperatura do Planeta não pode subir mais de dois graus celsius (2°C) até 2020. Caso o atual cenário seja mantido, alertou que as estimativas apontam para aumento climático de 4ºC em média por volta de 2060 a 2100.

Participante também do debate na Finep, o professor Pedro Cunca Bocayuva, do Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio, destacou a necessidade de o Brasil refletir mais sobre as consequências do aquecimento do clima. Para ele, o País já sente os efeitos do aumento da temperatura, citando como exemplo a seca na Amazônia. Se o País mantiver o atual cenário de poluição ambiental, Bocayuva não descarta a hipótese de a nossa temperatura subir mais de 2°C na próxima década. “Se isso ocorrer, o Brasil pega fogo por estar numa faixa do globo delicada à exposição solar”, alertou Carlos Ganem, assessor do gabinete da presidência da Finep.

Soluções de inovação, de ciência e tecnologia já são adotadas no mundo, principalmente no campo. Segundo Beddington, esses fatores estimularam a produção a dobrar nos últimos 40 anos, puxada pela produtividade, ao passo que o crescimento da área cultivada cresceu 8% no mesmo período.

Ampliação de iniciativas de melhoramento genético em culturas agrícolas e racionamento do uso da água, principalmente a utilizada na agricultura, que responde por cerca de 70% do consumo do recurso natural do Planeta, foram outros assuntos abordados pelo cientista britânico. Segundo ele, no Reino Unido já existem estudos para tirar a salinidade da água do mar para consumo. Também sugeriu a redução do desperdício agrícola, sobretudo nos países em desenvolvimento, onde 50% do PIB são perdidos em decorrência de pragas e transportes inadequado das mercadorias.

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